George Leal Jamil
Ser inteligente, temos para nós mesmos, é um fator inegável de aprimoramento de nossas vidas, de melhoria de nossas perspectivas, algo estritamente relacionado a nossa forma de aproveitar o mundo e compreender como evoluir continuamente.
Se para um ser humano é um aspecto importante, evolutivo, o que dizer para as organizações que compomos, que integramos? Ser organizacionalmente inteligente é relevante da mesma forma? Pode favorecer em quais oportunidades? Há esforço, dispêndio envolvido em ser e manter-se inteligente?
Este artigo tem por objetivo lançar algumas reflexões a respeito da Inteligência Empresarial (IE), de sua conceituação, aplicação e dos desenvolvimentos possíveis, relacionando ainda formas e impactos para que uma organização se torne e se mantenha inteligente.
Recorrendo a uma acessível definição a partir de dicionários, compreendemos a inteligência como a capacidade de aprender continuamente, gerando conhecimentos aplicáveis a nossas intenções e propostas, bem como permitindo a uma constante evolução na percepção de problemas e suas soluções associadas. Poderíamos recorrer a um longo e intrincado debate filosófico a respeito deste valioso conceito, contudo optamos por focalizar nossa discussão a partir daí. Nossa compreensão avança – sendo inteligentes, quem sabe? – para compreender uma organização inteligente.
No caminho pretendido, temos, ainda, uma profusão de abordagens sobre o conceito da Inteligência empresarial. Do “Business Intelligence”, conjunto integrado de ambientes e recursos de tecnologia da informação para suprir conteúdos para análises para negócios; passando pela Inteligência Artificial, campo da Matemática aplicada que se devota à perspectiva que autômatos possam reproduzir (e melhorar ao menos em desempenho e continuidade) a ação de seres humanos, alcançamos a Inteligência competitiva. E, este último ponto vale uma discussão particular.
A Inteligência competitiva (IC) é definida como um processo, um ciclo, proposto para resolver um problema ou decisão estratégica, compondo fases de simples e objetiva compreensão, mas de elaborada necessidade de execução. São os trabalhos, em sequência, de planejamento, proposição do problema, coleta de dados, composição de cenários, formulação de resposta (s) possíveis, comunicação e implementação da solução adotada.
A IC, normalmente, não é executada permanentemente, sendo um processo normalmente executado quando uma decisão estratégica é encarada pela organização. De maneira a questionar, alguns autores contestam se a inteligência competitiva se traduz, efetivamente, em mudança cultural da empresa. Muito mais frequente é a descrição que este ciclo se devota à solução deste problema de alta complexidade, de alta demanda, por ser de nível estratégico, do que, por si só, ser um componente de mudança cultural.
Quando buscamos entender a Inteligência Empresarial buscamos algo que seja permanente, constante e contributivo em acumulação de conhecimento, exatamente no que previa aquela simples e acessível definição de dicionário. Entretanto, aqui, pensamos em ambiente de uma organização, aí a situação modifica-se em função de integrar pessoas, processos, recursos, ter objetivos (estratégicos), enfrentar riscos e da dinâmica que cada organização se insere, compete e evolui.
Numa ideia a ser ofertada ao leitor para o debate, pensamos na inteligência empresarial como um ciclo constante, que é desenvolvido a partir da conceitualização de outra versão do conceito, inteligência de mercado, esse último aplicado aos trabalhos e formulações da gestão estratégica de marketing.
A IE é definida como um processo de adoção e uso constante, que objetiva integrar a empresa e produzir conhecimentos que esta necessita para suas decisões, planos e gestão como um todo. De forma abrangente, este conceito – e, por isto, é propositadamente vago – irá se compor, definir (ou seja, este pode ser usado para compreender os demais) os outros conceitos derivados para inteligência, e poderá ainda ser compreendido em várias instâncias, como a estratégica, a tática e a operacional, além de se relacionar aos processos empresariais. Neste último caso, a inteligência empresarial guardará potencial relacionamento com o planejamento estratégico.
Como um ciclo, a IE será composta de:
- Planejamento – É o início, reflexivo e de elaboração, onde todo o ciclo é determinado, em termos de seus prazos, recursos, envolvimentos de pessoas e demais detalhes para que os objetivos sejam produzidos;
- Monitoramento de ambiente competitivo – Elaboração e uso de rotinas que coletem e preparem, num primeiro nível, os sinais competitivos de mercado, consolidando informações de concorrência, aspectos de rivalidade e competição, fatores de sucesso, análise regulatória, implicações e riscos.
- Formação de conhecimento – Composição de demonstrações e exposições do que foi constatado na etapa anterior, em diagramas, tabelas, mapas de conhecimento, definição de processos, fundamentos de treinamentos e outras peças de apresentação do conhecimento, visando a aplicação do que foi compreendido para o desenho futuro de cenários.
- Desenvolvimento de cenários prospectivos, de “chegada” – auxiliando na decisão, informando como e onde chegar, adicionando-se uma visão inicial de comprometimentos – custos, recursos, investimentos, envolvimentos.
- Aprendizado – o que deve ser retido do que foi produzido. Armazenaremos os resultados? Mais importante, “como” esses resultados foram obtidos? (aqui, preciosamente, aprendemos a fazer e não apenas entregar resultados) Como produzir mais e melhor, da próxima vez?
Assim sendo, alcançamos novamente o ponto de realizarmos nova rodada do ciclo. No item (1), Planejamento, em cada “rodada” do ciclo, percebemos mais e mais nossas possibilidades de gerar estes conhecimentos empresariais e de gerenciar o ciclo cada vez melhor. No item (2), temos a aplicação de vários recursos tecnológicos, em crescimento evolutivo, com avanços constantes.
Dos itens (3) e (4) produzimos cenários que propiciarão comunicar com os níveis táticos, como o Financeiro, Recursos Humanos, Marketing, TI, Operações, Gestão Logística e Cadeia de suprimentos, entre outros. No item (5), geramos o aprendizado organizacional, potencialmente possibilitando aprimoramento, amadurecimento e desenvolvimento da empresa ou instituição.
Estes são os primeiros sinais, a primeira reflexão para o ciclo da inteligência empresarial. Nos nossos próximos estudos, discutiremos como implementar, casos potenciais de uso e compromissos para ter uma organização inteligente.
Vamos discutir e, desta forma, promover a inteligência empresarial.
George Leal Jamil é Independent Consultant – Senior Research Partner at Nous SenseMaking